sábado, 17 de junho de 2017

Satanismo, Blasfêmia e a Missa Negra

Felicien Rops (Belgian, 1833-1898) - Black Mass, 1877
[ONA 1974eh]

Em um aspecto importante, o Satanismo pode ser considerado pelos novos Iniciados como um processo de catarse – significa um meio aonde os indivíduos irão se despojar de papéis limitantes frequentemente criadas pelo ethos¹ou ética da sociedade na qual se encontram inseridos.
Portanto, passados mil anos ou mais na Europa Ocidental, um dos Rituais Satânicos mais importantes, e que mais preocupava os noviços e o “público”, era a Missa Negra – simplesmente porque o ethos que governava pertencia à organização religiosa Nazarena. Todavia, a má interpretação do Satanismo genuíno é a razão da catarse, particularmente porque a genuína Missa Negra possui apenas alguma semelhança  com a “missa negra” descrita nos últimos 500 anos por vários escritores e “autoridades”.
Para o aprendiz satânico (os dois primeiros estágios das sete partes do caminho Satânico), o Satanismo representa o aspecto obscuro da psique individual – e assim se identificando, o indivíduo é habilitado pela transformação resultante para iniciar a “Grande Obra” cuja conquista é o objetivo do Adepto. Esta "Grande Obra” é simplesmente a criação de um novo indivíduo – e este novo tipo de indivíduo, em virtude do caminho seguido, frequentemente inspira certo terror nos outros. Claro, o Caminho da Mão Esquerda é difícil, para não dizer perigoso, e o fracasso geralmente ocorre ao longo do caminho, pois a pessoa não compreende como as forças das trevas podem ser abordadas, manipuladas e, o mais importante, integradas para permitir uma identificação além do bem e do mal, como estes termos são entendidos comumente. Isto é, todos aqueles que falham em sua busca ao longo deste caminho (e Gilles de Rais² é um exemplo) o fazem com frequência porque fundamentalmente aceitam a dicotomia “bem” e “mal” e se identificam com o que percebem ou acreditam que são, o “mal” – essa percepção e entendimento quase sempre derivam do que a “oposição” declarou ser “mal”. A realidade é que essa dicotomia não existe no cosmos – na realidade, a convenção do que é o “mal” foi imposta pela projeção dogmática da maioria Nazarena.
Em um sentido fundamental, o Satanismo é um meio pelo qual cada indivíduo pode descobrir (ou melhor “re-descobrir” no sentido de Heidegger³) a realidade por eles mesmos.
Portanto, a catarse Satânica é essencialmente uma blasfêmia – mas de maneira ordenada e com objetivo definido; resulta de uma vontade individual canalizada por uma compreensão consciente. É a aplicação da vontade – da intenção consciente – que destaca o Satanista genuíno da imitação e do fracasso. Um Satanista se diverte na vida – as falhas encontram-se presas por seus próprios desejos inconscientes que não têm a inteligência para entender nem a vontade de direcionar para uma apreensão consciente.
A blasfêmia é efetiva apenas se, ao longo de sua vida, primeiramente, um choque genuíno e uma reação em que valores embora aceitos são muitas vezes inconscientemente aceitos; E, em segundo lugar, se é uma apreciação das qualidades positivas e favoráveis à vida inferidas pela oposição infernal. Assim, enquanto a Missa Negra tradicional – com esta negação do Nazareno – ainda é útil por causa das restrições contínuas das crenças Nazarenas, hoje é complementada por uma Missa em que em sua versão inexplorada, representa um choque blásfemo para a maioria das pessoas na Grã-Bretanha e outros países Ocidentais.
A Missa Negra, e as Missas Satânicas modernas que derivam dela, em suas formas genuínas provocam uma resposta revigorante pelo próprio fato de uma oposição positiva. A oposição negativa – como a chamada missa negra descrita em “La-bas”⁴ - é enervante. A Verdadeira oposição Satânica – codificada em um ritual – produz exatamente o contrário – a vontade por mais vida: e é essa vontade positiva, vital, que será a essência para o arquétipo genuíno da imagem de Satã, o adversário. A oposição Negativa – um murmúrio na morte, decadência, horror e imundície de decadência descontrolada – é sinal de imitação do Satanismo: uma imagem distorcida do cadáver putrefato do Nazareno.
Uma das Missas Satânicas usadas atualmente é baseada na evocação de Adolf Hitler – e não apenas como algo artificial, ainda menos como um “jogo” psicológico. Em vez disso, há uma identificação genuína com os aspectos positivos do nacional-socialismo e que aumentam a vida. [Para a maioria dos leitores, isso será chocante - uma blasfêmia; O que é exatamente o ponto.] Assim como acontece na Missa Negra tradicional, é a ênfase colocada nas qualidades de oposição positivas e vitais que são importantes - porque isso contradiz na sua própria essência tudo o que é assumido sobre o que ou a respeito do que é o propósito da missa. Portanto, nessa Missa Negra em particular, Adolf Hitler não é representado hoje como retratado por seus inimigos – como um tipo de monstro “mal” – mas exatamente o oposto, como um nobre salvador.
O ritual Satânico genuíno, para um novato, não é apenas inversão – é uma completa rejeição de imagens e ética do ethos particular – e o Satanista usa todas as imagens e ética, sua essência invertida, contra seu próprio “condicionamento” inconsciente, e ultimamente contra a sociedade que usa/cria essa ética e imagens. Indivíduos que participam de missas Satânicas genuínas e bem-executadas experimentam às vezes uma espécie de satori – uma iluminação súbita – e são levado portanto a aumentar sua própria compreensão consciente. Eles também conseguem um aumento em sua própria vitalidade porque eles se tornaram livre por quebrar opostos constrangedores.
Em um sentido muito importante, o Satanismo descobre que o ethos de determinada sociedade ou sociedades foi coberto através de imagens, dogmas, éticas, palavras e ideias - e retorna o indivíduo ao caos primitivo em que os opostos foram formados.
Esta descoberta gera o controle individual, uma compreensão consciente e uma consciência de seu Destino único. Isso é e tem sido o propósito de grupos Satânicos genuínos para promover esse descobrimento guiando os noviços e fazendo com que eles participem de ritos blásfemos. Além de tal descoberta, cessam ritual e cerimônia – para serem substituídos por uma profunda habilidade sem palavras, uma profunda empatia. O fundamento ou a base desta empatia é o que tem sido chamado de "individuação" - a unidade que representa um Adepto genuíno. Mas essa “individuação”, este estágio de adepto, é apenas outro começo; é somente o quarto estágio para o objetivo ultimo.
Fundamentalmente, as Ordens Satânicas aumentam, aceleram, evoluem - enquanto a maioria das pessoas dormem, cheias de medo dos terrores infernais.

NOTAS:
¹ palavra de origem grega que significa “caráter moral”. Em Sociologia representa os costumes de um povo.
² herói que lutou ao lado de Joana Darc e libertou a cidade de Orléans dos Ingleses, ficou conhecido por cometer abusos sexuais e canibalismo contra crianças em rituais de magia negra.
³filósofo, escritor, professor universitário, reitor e um dos grandes pensadores do século 20.
⁴O romance Là-bas, de Joris-Karl Huysmans,reproduz o tema do satanismo e sua presença em um mundo moderno já tomado pelo Positivismo.

Tradução e notas: A Bruxa.
Revisão: AShTarot Cognatus

- Ordem dos Nove Ângulos -

2 comentários:

  1. A Grade Obra das escolas iniciáticas da alta magia, a transformação, não tem esse significado de transformação de ideologia, oposição aos dogmas religiosos e libertação de conceitos maniqueístas de bem e mal.

    Antes os iniciados a grande obra cuja elemento principal, era o agente universal cuja lei suprema é o equilibro, entre duas polaridades, duas forças, que existem em magia e em física, a maçonaria representa isso com as duas colunas, no abrangente ocultismo vemos essa dualidade nas religiões.

    Enquanto não se reformar; não poderia, pois, ser um adepto, porque a palavra adepto significa aquele que se elevou por sua vontade e por suas obras.''
    Eliphas Levi Dogma E ritual Da Alta Magia Pag 15

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