domingo, 21 de agosto de 2016

Confissões: 3

Confissões:  3
(Retirado de Fenrir nº 3 1999 E.V)
ONA

Dizer que a senhora elegante que me surpreendeu assaltando seu apartamento do quinto andar me seduziu é apenas parte da verdade. Eu fui de bom grado seduzido. Na manhã seguinte, introduções a parte, ela disse que havia pedido a seu príncipe para trazer a ela um companheiro. Ela servia ao príncipe das trevas – do seu próprio modo, sem formalidades ou grupos. Ela sabia um pouco do que eu, até então consideraria como magia tradicional – de  cunho cabalístico; ao vez disso, sua própria tradição era diferente, e possivelmente única. Ela era uma sacerdotisa negra, uma Juliette moderna e sutil (a variação de Sade, não de Shakespeare) – uma predadora de homens, através dos implementos de seu corpo e olhos.

Muito naturalmente, nós nos tornamos companheiros, ela encontrando um prazer sexual em arrombar casas (e as vezes não satisfeita facilmente durante um trabalho difícil) e eu encontrando através dela novas habilidades na magia – e sexo, é claro. Nós permanecemos alguns meses juntos, num frio mas ensolarado inverno há muitos anos atrás. Então eu cometi um erro – eu me apaixonei por ela, e a pedi em casamento. Naquela noite ela disse muito pouco – exceto com seu corpo. Mas pela manhã ela se foi - para América, me deixando um bilhete. E eu achava que entendia as mulheres.

Eu tentei encontrá-la, sem sucesso e, me sentindo um pouco deprimido pela primeira vez na vida, fiz uma promessa, deixei a cidade e arranjei um emprego. Sim, o serviço público. Eu sempre fui aos extremos. O trabalho curou minha depressão – duas semanas depois de começar eu saí para o intervalo de almoço e não voltei, triste por perder meu novo guarda-chuva desde que choveu aquela tarde. Mas as duas semanas de uma labuta de escrivaninha, destruidora de alma, se provaram úteis de uma maneira – eu conheci alguém com um interesse em magia cuja esposa era muito bela. Eu mantive contato e isso não foi muito antes de eu realizar o primeiro ritual em sua casa. Eles estavam sendo irritados por seus vizinhos e eu enviei uma força para espalhar medo e ansiedade. Uma semana depois, os vizinhos anunciaram que iriam se mudar. Isso impressionou meus amigos, e naquela noite eu iniciei a esposa (sexualmente, é claro), que alguns dias mais tarde iniciou o marido. Eles transformaram um dos seus quartos em um templo satânico sob minhas instruções, e eu fiz da esposa minha sacerdotisa.

Gradualmente, nosso grupo aumentou, e eu logo eu me encontrei coordenando um templo de mais de uma dúzia. Nossa magia era negra, e bem sucedida – quem precisava de crime? Foram-me dados presentes, emprestaram-me um apartamento, conheci muitas mulheres, interessantes e atraentes, e por muitos meses essa vida continuou até uma noite, depois de conduzir um ritual de iniciação, eu  percebi que agora estava desempenhando o papel que anos atrás eu havia desprezado quando foi desempenhado pelo alto sacerdote do grupo de minha própria iniciação. Eu estava exercendo o mesmo controle que ele havia e estava contando as mesmas fábulas para melhorar o meu carisma e o do grupo. 
Insatisfeito, eu passei a me envolver com violência. A violência purificou, e eu me peguei vagando pelas ruas com alguns meliantes cujos serviços eu havia usado na ocasião para realizar um teste de fidelidade aos interessados no templo. Nosso pequeno grupo tinha uma causa, e nós, como uma tribo moderna, tínhamos muitos inimigos, então brigas eram fáceis de encontrar. Havia gozo nessas batalhas, no seu planejamento; uma explosão de vitalidade. A vida era bruta, real e excitante, e essa expressão física complementou minha vida mágicka.

Então, numa fatídica e calorosa noite de verão depois de um pequeno conflito, nós fomos subitamente cercados por viaturas da polícia. Preso, acusado e levado a prisão preventiva para ser finalmente mandado pra cadeia. Essa se mostrou uma experiência interessante, e eu posso recomendá-la á todos aqueles que aspiram a se tornarem adeptosuma única vez se você é fraco de espírito. Por volta de seis meses de uma vez está correto.Você certamente – se você possui alguma inteligência e espírito – irá encontrar o que é realmente importante pra você. De qualquer modo, eu deixei a prisão com mais dinheiro que quando entrei, executando um negócio rentável vendendo chá roubado dos armazéns (isso foi nos dias antes das drogas serem usadas em tais locais).

Eu não  sabia, realmente, o que era liberdade antes de perder a minha própria. Minha sacerdotisa e sacerdote estavam felizes por me ver - eles mantiveram um grupo funcionando e minha primeira noite livre coincidiu com um  jantar que eles prepararam para dois possíveis membros, um homem e sua esposa. Para abreviar a história, depois da refeição a esposa pediu licença para ir ao banheiro, eu a segui e nós fizemos amor extático no chão do banheiro. Bom, isso tomou muito tempo e seus olhos eram muito convidativos, eu retornei, falei com seu marido sobre magia e seu único comentário foi: “Eu não sei, mas não confio nem gosto de você”. Imbecil, o que eu poderia dizer? Mais tarde a sacerdotisa veio a minha cama.

A vida se tornou como era antes: mas quem quer viver em seu passado? E eu não queria jogar o papel/jogo do “mestre” apesar de algumas de suas atrações. A prisão me concedeu uma nova perspectiva e eu quis viver, realmente viver, no limite. Satanismo se tornou pra mim naquela época uma filosofia sob a qual eu vivia – mate os outros antes que eles matem você, mas sempre seja honros­o (essa parte é onde o satanista de brinquedo falha) e morra antes de se submeter a alguém. 


Eu busquei uma causa para me permitir viver isso. Então encontrei uma guerra em algum lugar. Não era uma grande guerra, era mais do tipo guerrilha. Isso tornou-se bom – estando perto da morte: os momentos no meio foram transformados e desfrutados ainda mais. Havia uma pureza em viver desse  modo com perigo constante, algo que os fracos jamais irão entender. Satanismo despreza covardes – esse sempre foi o caminho do guerreiro. E eu não sou o tipo que os “modinhas” falam (“Guerreiros do caos”). Eu sou do tipo que realmente mata e cujas mãos estão banhadas em brutalidade e sangue.

Minha vida tornou-se um tipo de constante invocação  ao Príncipe das Trevas. O instinto e espírito eram triunfantes: como eles não são na nossa atual sociedade imbecil onde excelência é rebaixado e onde cálculo, covardia e sub-humanos dominam. Eu aprendi algo de grande valor sobre minha fé – aquela fé elitista chamada Satanismo - foi que ela trata essencialmente de auto-excelência – desafiando as probabilidades – e não, como muitos dizem, tratar-se de algo material. Ela significa lançar a si mesmo objetivos além do ordinário e alcançá-los, viver com estilo.

Esse aprendizado custou-me caro – Eu fui ferido, e forçado a me retirar da guerra. Até hoje, os efeitos desse ferimento duram, como os efeitos do que eu descobri sobre mim mesmo, sobre as mulheres e sobre o mundo. Eu atravessei o Abismo. Mas isso não é pra mim explicar aqui, o que jaz além do abismo, exceto dizer que pessoalmente, eu acho que nós podemos criar uma existência para nós mesmos depois da morte. A palavra chave é criar. Essa existência não é dada – não é atada a nenhum conceito moral como “pecado”. É uma forma de magia, realmente a mais alta e mais secreta forma. Essa vida é, se você quiser, um tipo de oportunidade que só temos apenas uma vez, porém muitas pessoas a têm e desperdiçam-na. O portal está lá, mas poucos veem isso, e menos ainda empurram aquele portal para abrir e seguem o caminho além. A chave é o êxtase da existência que é tudo o que irei dizer sobre a genuína pedra dos filósofos, que pode apenas ser produzida no cadinho da escuridão (i.e. Satanismo)

Não há um fim real para minha vida enfadonha – eu retornei a Inglaterra, um pouco mais sábio, entendendo a perspectiva cósmica além de todo o cerimonial e resultados mágickos. Isso é o verdadeiro entendimento do mestre (e da senhora da terra) – sua magia é e sempre têm sido magia aeonica, que é, alterar o mundo. Na maioria da vezes, esses indivíduos estão escondidos.

Por agora, Eu estou meio satisfeito – satisfação deve vir apenas após a morte (se vier). A moral de minhas peregrinações (se houver alguma) é: se ousar, aprenda por si mesmo indo aos extremos; se você não consegue fazer isso porque de alguma maneira você não é livre, então encontre alguém que tenha percorrido esse caminho antes de você e deixe-o guiá-lo. Apenas guia-lo, mente. Você deve ser guiado apenas a experiência – porque experiência é o fogo que purifica e cria.

Você pode me encontrar, um dia – mas não irá me conhecer, a não ser que eu queira. Por que eu tenho muitas faces que mostro ao mundo, e até aqueles que professam ser “adeptos” e “mestres” eu posso enganar – porque, diferente de mim, eles não são naturais. E sim no caso de você estar se perguntando, eu sou humano – tendo me apaixonado enquanto jazia ferido e a beira da morte. Todo mestre necessita amar uma senhora depois de tudo, aqui jazem enigmas que apenas o sábio irá ver.

Tradutor: Temujin Ras Al´Ghul
Revisor: AShTarot Cognatus


- Ordem dos Nove Ângulos -



 

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